O ano era 2006. Eu ainda era uma menina quando as chamadas da estreia de LOST passavam incansavelmente na Rede Globo. Tanta propaganda me deixou curiosa. Lembro que as chamadas anunciavam a estreia especial do episódio piloto no domingo, na sessão do Domingo Maior. Lembrar de LOST me faz recordar dos momentos mais simples que foram a infância-adolescência. O único compromisso que eu tinha era estudar. Lembro, como se estivesse estampado na minha memória, daquele domingo de final de noite, pedindo para minha mãe me deixar acordada mais um pouco para assistir àqueles dois episódios especiais.
Lembro da TV de tubo de 14 polegadas da minha mãe. A TV da sala tinha pifado, então ela colocou a dela na sala para que eu e meu sobrinho (que morava conosco) pudéssemos assistir. Pensando hoje, parece uma TV tão minúscula que me pergunto como conseguíamos assistir nela. Lembro de todas as luzes da casa estarem desligadas, apenas a TV iluminava. E lembro de, finalmente, o episódio tão esperado começar. Fiquei encantada e assustada com o que estava vendo na tela: um acidente de avião retratado com tanta precisão, sobreviventes completamente perdidos em uma ilha que não parecia nada pacífica. Uma ilha cheia de perigos e mistérios…
Em comemoração aos 20 anos da série, preparei um especial sobre os recursos narrativos tão importantes para a trama
Acompanhar LOST nas madrugadas da Globo, após o Jornal da Noite, não era tarefa fácil. Eu tinha escola nos dias seguintes e sempre dormia mal, mas nunca reclamava. Parecia valer a pena assistir e gostar de algo tão bom como foi a primeira temporada. Na época, eu ainda não tinha pensamento crítico para elaborar melhor sobre LOST, mas lembro que o que mais me encantava na série era ver aqueles personagens passando por altas aventuras, indo floresta adentro para buscar respostas ou enfrentar perigos e medos. Aqueles personagens eram corajosos. Todos eles.
O tempo passou e eu não conseguia mais acompanhar LOST na Globo. Parei em algum ponto da terceira temporada, não lembro se cheguei a terminá-la. Eu estava começando a ter mais responsabilidades na vida. Mas fiz uma promessa para mim mesma: um dia eu iria terminar LOST. Lembro também que um dos meus principais objetivos era juntar bastante dinheiro para comprar os boxes da série. O DVD era popular, né?
Falando em DVD, foi por causa deles que eu tive a oportunidade de rever as duas primeiras temporadas da série, que eram as mais populares por aqui. Na verdade, eu não sabia como era o desempenho da série nos EUA, nem quantas temporadas ela teria; só sei que sempre fui vidrada nessa série. Eu sempre pedia ao meu pai para alugar naquele esquema de final de semana “alugue 4 DVDs, pague R$ 9 reais e só entregue na segunda”. Outra era começou. Já cheguei a assistir LOST 6 horas por dia, via uma temporada inteira em 2 dias. Às vezes, acho que tenho a primeira temporada toda registrada na minha cabeça.
Então, tive acesso à internet, e com isso, pude descobrir mais sobre minha série favorita (na época já era). Descobri que o final dela foi super criticado. Descobri também que o fandom de LOST foi um dos pioneiros a criar fóruns para discutir tópicos sobre a série e suas curiosidades. Descobri o impacto de LOST na TV contemporânea, mas nunca tinha assistido ao final dela. Ela é uma daquelas séries difíceis de encontrar pela internet afora. Pelo menos, na época, eu tentei muito.
Foi por causa de LOST que o mundo das séries se abriu para mim, que pude conhecer mais produções televisivas além das novelas. Várias séries passaram por mim, como Grey's Anatomy, por exemplo, outra que amo muito e que passou a fazer parte da minha vida. Mas o desejo de terminar LOST sempre rondava minha cabeça. E foi procurando maneiras de assistir LOST que também descobri os meios alternativos de assistir séries e os grupos de legendagem. Outra porta do mundo das séries se abriu para mim.
Eu só fui saber o final de LOST quando o streaming chegou, e, já nessa época, a ideia de ter os boxes estava mais distante. O DVD já estava cedendo espaço para o streaming, para a Netflix. E foi na Netflix, quando LOST chegou ao catálogo pela primeira vez, que finalmente consegui assistir à série completa. E eu amei o final. Acredito que o tempo foi importante para compreender melhor a série. Na época, meu pensamento crítico já estava mais desenvolvido. Assistir à série completa foi como cumprir uma promessa. Amei cada momento daquela maratona. Descobrir LOST novamente, defini-la realmente como minha série favorita. Compreender melhor a narrativa, o que a série aborda, como ela desenvolve seus personagens…
Pensando agora, enquanto escrevo este texto, percebo que LOST sempre esteve presente, mesmo que de forma inconsciente, na minha trajetória como pseudo-comunicadora. Sou grata a esse show. Tão grata que a ideia dos boxes mudou para algo que fizesse mais sentido e ficasse marcado para sempre na minha vida. Uma das minhas primeiras tatuagens é um desenho da série. Agora ela me acompanha todos os dias, para sempre na minha pele.
Escrevo este texto como relato pessoal, mais sobre o impacto de LOST em um período importante da minha vida, e como ela começou a moldar minha paixão pelo audiovisual, para que hoje eu estivesse aqui, nesta newsletter que vai direto para o e-mail das pessoas que me acompanham. Então, obrigada, LOST.
20 anos merecem mais 20 maratonas.